Estaleiro Verolme Angra dos Reis

Subsidiária da Verolme holandesa instalada em 1959 em Angra dos Reis (RJ), foi por duas décadas, ao lado da Ishikawajima, um dos maiores e mais ativos estaleiros do país. (vista do estaleiro em 1975)
Além de produzir diversas embarcações, foi decisiva na vida de milhares de jovens formados pela “Escolinha da Verolme”, que tinham a mão de obra aproveitada no próprio estaleiro.
Em 1983 a empresa foi vendida para investidores brasileiros. O país mal saíra da recessão econômica, que vinha do início da década.
Toda a indústria naval brasileira se encontrava em profunda crise, agravada pela redução dos subsídios estatais para o setor.
A exemplo dos fabricantes de material ferroviário, que passavam por iguais tensões, os estaleiros buscaram na diversificação um caminho para a sobrevivência. A Verolme foi uma das primeiras a procurar saídas fora de seu mercado principal. (foto da década de 60)
Ainda em 1983 a empresa anunciou seu plano de investimentos, que incluía desde a criação de gado e plantação de soja mediante incentivos fiscais até a utilização da capacidade ociosa das suas instalações para a fabricação de embarcações militares, dragas e equipamentos pesados para mineração e construção civil, inclusive autopropelidos.
O primeiro veículo cogitado foi um caminhão fora-de-estrada para 200 t, com tração elétrica GE, a ser fabricado sob licença de uma empresa norte-americana não revelada; sem conseguir fechar um acordo de transferência de tecnologia, a Verolme desistiu do projeto. (foto acima mostra os apartamentos usados como alojamento, década de 80)
A seguir enveredou para o segmento de carros de bombeiro, produzindo algumas unidades a partir do furgão Mercedez Bens 608 D. (foto do antigo aeroporto)
Suas iniciativas teriam um pouco mais sucesso na área militar, embora para aplicações terrestres e não navais. (foto do caminhão de bombeiros em 1987)
O primeiro equipamento completo a ser concluído e único a ser comercializado em pequena quantidade  foi o caminhão para combate a incêndio em aeroportos São Bernardo, apresentado em julho de 1985. Dotado de tração nas quatro rodas, toda mecânica foi emprestada da Scania (chassi, eixos, caixa de cinco marchas com redução, motor de 370 cv).
Com peso operacional de 14 t, possuía bloqueio dos diferenciais, guincho, tanques para água, espuma e pó e moderna carroceria de alumínio de perfil baixo e cabine avançada; sua bomba de alta pressão permitia vazões de até 4.000 l/min e alcance de 60 m.
O segundo projeto militar da Verolme, do qual foi construído apenas o protótipo, teve gestação mais lenta. Os planos iniciais previam a fabricação seriada, para exportação para a Europa e EUA, de um obuseiro rebocado (FH 70) com alcance de 30 km, arma então adotada pelas tropas da OTAN.
Projetado para disparar projéteis de 155 mm, foi desenvolvido em conjunto pela britânica Vickers, a alemã Rheinmetall e a italiana Oto Melara. O projeto gerou um outro muito mais ambicioso: a produção, também para os países-membros da Otan, de um obuseiro autopropelido sobre lagartas, a ser equipado com o canhão do FH 70. (na imagem acima a vista do estaleiro à partir da década de 80)
Ainda em fase de desenvolvimento pela Vickers, teria motor Cummins de 600 cv, importado dos EUA. Por ser arma de retaguarda, o veículo não teria blindagem. (vista do estaleiro em 1975)
Oficialmente denominado AS90 Mallet, a Verolme foi responsabilizada pela construção do protótipo, concluído a tempo de ser exposto em junho de 1986 na British Army Equipment Exhibition. (Corveta em 1991)
Nos testes o carro revelou peso de 35 t (incluindo 42 obuses a bordo), autonomia de 500 km e alcance de tiro de 41 km. O sistema automático de pontaria permitia a cadência de seis lançamentos por minuto. (Corveta V33, Frontin, em 1992)
Os prejuízos permanentes ocasionados pela instabilidade do setor naval, porém, não conseguiram ser neutralizados pelos novos negócios da Verolme. O quadro econômico-financeiro da empresa se deteriorou, inviabilizando o acordo com a Vickers. (foto da Corveta 32, Julio César de Noronha1989)
Em 1991, já concordatário, o estaleiro foi comprado pelo polêmico empresário Nelson Tanure, que já controlava a Emaq, em menos de três anos também assumiria a Ishikawajima e em pouco tempo colocaria todas em situação pré-falimentar. (foto acima dos prédios administrativos, década de 80)
Depois de passar por longo período de inatividade, no ano 2000 a Verolme passou a ser administrado pelo grupo Keppel Fels, sediado em Cingapura, ironicamente hoje também controlador da Verolme holandesa.
Quanto ao obuseiro AS90, foi colocado em produção seriada na Grã-Bretanha, sendo até hoje fabricado em grande quantidade pela BAE Systems, sucessora da Vickers. Os dois períodos do estaleiro na cidade (Verolme, Brasfels), foram importantes do ponto de vista socioeconômico para a cidade, os empregos gerados dão dignidade ao trabalhador que normalmente sentia um certo orgulho em trabalhar no local.
Além disto, o estaleiro foi durante vários anos o local com os melhores salários da região. Entretanto, alguns fatos devem ser pontuados, como: a contratação de mão de obra externa a região; a política de apadrinhamento; a ineficiência do sindicato; a “popular política do QI (quem indica)”. (foto da embarcação Érica)
Esses fatos associados trouxeram para Angra dos Reis, grandes contingentes populacionais atraídos pela oferta de emprego, gerando ocupação desordenada de encostas, sem programas habitacionais suficientes, a especulação imobiliária era forte, os valores de alugueis eram exorbitantes. (foto da dragagem do estaleiro)
Atualmente, o entorno mais parece um bairro fantasma, com muitas casas vazias. Angra dos Reis vem atravessando uma das piores crises da história, quase não há emprego, e os poucos empregos que restaram, não passam de subemprego que não dão poder de compra ao cidadão e muito menos qualidade de vida.
Vemos nestes últimos anos um abandono da região por parte de nativos e migrantes que vieram para Angra em busca de oferta de trabalho e estão fazendo o caminho inverso. A expectativa e de regressão populacional em relação ao último Censo realizado. Fonte: Verolme do Brasil, PMAR, IBGE, Keppel Fels Brasil, Eliezer Magliano, Marinha do Brasil.
    Vista aerea do estaleiro sem data.
Navio Doce Nave no estaleiro, sem data.
Navio Doce Nave no estaleiro, sem data.
Navio Doce Nave no estaleiro, sem data.
Navio Doce Barra no estaleiro em 1974.
Navio Lages, no estaleiro, sem data.

Navio Lavras no estaleiro em 1991.
Navio Julio Regis, sem data.
Navios Lages e Lavras, ainda, Corveta ao fundo, 1991.
Navio Mineral Star no estaleiro em 1991. 
Lançamento do Navio FrotaRio em 27-07-1994
Navios no estaleiro, sem data.
Navio Doce Nave em construção, sem data.
Navios em construção no estaleiro, sem data.
Construção de navios no estaleiro em abril de 1991.
Estaleiro Verolme em 1972, Revista Manchete.
Lançamento de navio em 1968, Revista Manchete.

3 comentários:

  1. Olá meu nome é Fabiana, meu pai foi um dos primeiros mecânicos da verolme. Era conhecido como O Espanhol. Alguém tem alguma foto dele. Meu e-mail tradutora.alvarez@gmail.com

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  2. Excelente, mas não seria melhor deixar o nome dos autores nas fotos?

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  3. Muitas das fotos são repassadas em estado ruim e no processo de recuperação acabam por ficar ilegíveis, logo colocamos os créditos na fonte, sempre que possível. Se houver alguma que não foi citada por favor nos comunique para corrigirmos o erro. Grato pela mensagem!

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