O Forte Defensor Perpétuo foi construído em 1822, projetado para encabeçar o complexo defensivo de Paraty sobre pelo menos outras seis posições estratégicas. A designação presta homenagem a D. Pedro I, agraciado com o título de Defensor Perpétuo do Brasil.
Apesar da nomenclatura oficial, a construção não configura tecnicamente um forte, e sim uma bateria (posição de canhões aberta na sua gola).
O chamado Morro da Vila Velha foi o local escolhido para o estabelecimento da fortificação. Como o nome sugere, a elevação abrigou o primeiro núcleo de povoamento da região de Paraty, ainda no início do século XVII.
Seu fundador, João Pimenta de Carvalho, atribuiu a São Roque o patronato da povoação, construindo uma capela em sua homenagem. Alguns indícios sugerem que o Morro da Vila Velha tenha servido como espaço para algum tipo de construção defensiva a partir do século XVIII, mas não há hoje fontes suficientes para confirmar tal hipótese.
O contexto do estabelecimento do Forte Defensor Perpétuo em 1822 remonta ao reforço da defesa da região em meio às tensões que culminaram com a Independência do Brasil. Após o Sete de Setembro, a ameaça de um contra-ataque português por parte das tropas leais à coroa lusitana, que ainda dominavam praças importantes, como Salvador, levou o novo governo independente a projetar um amplo incremento defensivo ao longo da costa brasileira, especialmente na província do Rio de Janeiro.
Mesmo após o reconhecimento da Independência, a fortificação continuou a ser guarnecida devido à Guerra da Cisplatina contra as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina) que durou de 1825 até 1828. A partir deste ponto, houve um corte de gastos com o complexo defensivo brasileiro. O Forte Defensor Perpétuo alternou momentos de abandono com eventuais rompantes de preocupação em abastecer a posição de soldados e munições, como ocorreu no caso da crise diplomática com a Inglaterra em 1850.
Não são conhecidos registros históricos da ocorrência de conflitos marítimos ou tentativas de invasão por parte de piratas ou corsários, ainda que narrativas sobre naufrágios, piratas e aparições sempre tenham feito parte do imaginário de Paraty. Em 1856, a fortificação foi desarmada pelo Ministério da Guerra e transferida para o governo provincial. Segundo relatos, um regimento de pracinhas foi enviado para guarnecer o Forte durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1957, o Defensor Perpétuo foi tombado pela Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN, atual IPHAN), e restaurado pela mesma instituição na década seguinte.
Em 1989, o edifício passou a abrigar o Centro de Artes e Tradições Populares, que abriu ao público exposições sobre a cultura caiçara e suas tradições. O museu passou à responsabilidade do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) desde a criação da autarquia em 2009. Conta atualmente com um rico acervo da cultura local.
O edifício do Forte Defensor Perpétuo preserva a autenticidade de seu interior, com três áreas internas distintas: a Casa do Comandante; a ala do Quartel da Tropa, ao centro, com as enxovias; e o Quartel dos Inferiores, onde residiam cabos e sargentos e onde hoje funciona administração. Na área externa, preserva ainda a Casa da Pólvora e a Praça de Armas. A artilharia exposta na Praça de Armas do Forte Defensor Perpétuo é composta em sua maioria por peças de ferro fundido, calibre 12 libras, forjadas na Grã-Bretanha durante a segunda metade do século XVIII.
Após as Guerras Napoleônicas (1799-1815), os canhões teriam sido vendidos para o Brasil para compor a artilharia de diversas fortificações do país. Constitui exceção a este contexto o canhão, muito desgastado, situado imediatamente à direita da Casa do Comandante, já que provavelmente foi fabricado ainda no século XVII. Os tachos ou caldeirões para a produção de açúcar, situados no Quartel da Tropa, foram fabricados em Low Moor, nos arredores de Bradford (norte da Inglaterra), a partir de 1789.
A Casa da Pólvora, exemplar raro no Brasil deste tipo de construção, abriga amostras de importantes artefatos da tradição caiçara: as canoas feitas com troncos de árvores. O museu conta ainda com peças oriundas de fazendas da região de Paraty-Mirim, como o tronco de escravos, o carro de boi e os tambores de Candombe. Estes últimos são testemunhos do intercâmbio cultural afro-descendente através do Caminho do Ouro durante os séculos XVIII e XIX. Um destaque é o tronco em frente ao museu, muito fotografado por turistas que vistam o local, este tronco tornou-se mais um atrativo do local.
O acesso ao forte é através de uma agradável trilha sombreada, com vista para o centro histórico de Paraty, nesta trilha com sorte, você poderá ver alguns animais da fauna local. Seguindo a trilha após o forte, tem-se uma das mais belas vistas da Baía de Paraty. Ao lado da laje do mirante, existe uma trilha que da acesso a uma pequena praia, quase que secreta, veja as fotos!
Fonte: CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Muralhas de pedra, canhões de bronze, homens de ferro: fortificações do Brasil de 1504 a 2006. Rio de Janeiro: FUNCEB, 2009. Visitação do museu: de terça a domingo, de 9 às 12h e 14h às 17h.
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