O naufrágio do encouraçado Aquidabã ficou famoso na história naval brasileira como um dos mais terríveis acidentes navais da Marinha do Brasil em tempos de paz. Seus mortos são reverenciados até hoje.
Em abril de 1880 o Ministro da Marinha, Almirante José Rodrigues de Lima Duarte, apresentou um relatório à Câmara dos Deputados sobre a urgência de se modernizar a Marinha Imperial com a adição de modernos navios encouraçados.
A intenção do almirante era a de adquirir duas dessas embarcações junto a estaleiros britânicos e, desse modo, foram encomendados os encouraçados Riachuelo e Aquidabã.
Classificado como "Encouraçado de Esquadra", foi construído na Grã-Bretanha pelo estaleiro Samuda & Brothers e lançado ao mar a 14 de agosto de 1885. O seu primeiro comandante foi o Capitão de Mar-e-Guerra Custódio José de Melo. Tecnicamente era considerado um dos mais avançados da época, chegando a atingir 16 nós com seus motores de 6.200 HP a vapor.
Possuía 93 metros de comprimento por 17 de largura e pesava aproximadamente 5.000 toneladas. Seu armamento era constituído por quatro canhões de retrocarga de 9 polegadas, em duas torres duplas dispostas diagonalmente, uma a boreste e outra a bombordo; quatro canhões de 5 polegadas no convés superior; 16 metralhadoras (11 de 25 milímetros, 5 de 11 milímetros) e cinco tubos para lançamento de torpedos.
Como a sua couraça não protegia igualmente todo o navio, chegou a ser apelidado de "Encouraçado de Papelão" pelo seu primeiro comandante, Custódio de Melo. Em novembro de 1891, o Aquidabã cumpriu um papel decisivo na reação à tentativa de golpe de estado contra o Marechal Deodoro da Fonseca.
Foi de um de seus canhões que saiu o tiro de advertência à Esquadra de São Bento, chegando a danificar o campanário da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores no centro do Rio de Janeiro.
O encouraçado atingiu o ápice de sua carreira em 1893, no início da Revolta da Armada, quando voltou a ter a bordo o agora Almirante Custódio de Melo, na chefia de uma rebelião contra o governo do Marechal Floriano Peixoto.
O navio cruzou três vezes a baía de Guanabara, resistindo à artilharia de costa e, ainda por cima, levando a bordo o oficial que o chamara de "Encouraçado de Papelão". A partir daí, o seu apelido passaria a ser "Casaca de Ferro".
Em Abril de 1894 encontrava-se nas àguas da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina. Durante o combate naval de 16 de abril, junto à Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, foi torpedeado pelo contratorpedeiro Gustavo Sampaio, vindo a afundar parcialmente. Posto a flutuar, foi levado ao Rio de Janeiro para reparos superficiais.
O navio rumou em seguida para a Alemanha e para a Grã-Bretanha, para sofrer as recuperações necessárias no casco e máquinas e na artilharia. Somente em 1897 voltou a navegar, com um armamento ainda mais poderoso: dois canhões Armstrong de 203mm, quatro de 120mm e 15 metralhadoras Nordenfeld.
Algum tempo depois o Aquidabã retornou ao estaleiro para ser transformado em embarcação para experiências de transmissão de telégrafo sem fio.
As mudanças foram basicamente, a retirada dos dois mastros militares (instalados durante a reforma), os tubos de torpedo acima da linha d'água e a instalação de um mastro para a transmissão de dados telegráficos.
No dia 21 de janeiro de 1906, quando fundeado na baía de Jacuecanga, em Angra dos Reis, junto com o cruzador Barroso e o cruzador Tamandaré, quando faltavam poucos minutos para as 11 horas da noite, por razões até hoje desconhecidas, o Aquidabã sofreu uma violenta explosão em um paiol contendo cordite, partindo-se ao meio e vindo a afundar.
Pereceram no desastre 212 homens da sua tripulação, inclusive parte da comitiva ministerial que procedia a estudos sobre o novo porto militar, o seu comandante e grande parte da oficialidade do vaso de guerra. Salvaram-se apenas noventa e oito pessoas.
A pouca distância, a bordo do cruzador Barroso, o Ministro da Marinha, Júlio César de Noronha, assistiu à explosão do encouraçado, encontrando-se entre as vítimas, o seu próprio filho, o Guarda-Marinha Mário de Noronha e um sobrinho, o Capitão-Tenente Henrique de Noronha, além do Contra-Almirante Rodrigo José da Rocha e do Contra-Almirante João Candido Brazil, Patrono do Corpo de Engenheiros Navais da Marinha Brasileira.
Na imagem acima, uma gravura publicada nos jornais da época, ainda, a representação dos restos do navio na Baía da Ilha Grande, próximo da Ponta Leste.
A notícia da catástrofe espalhou-se imediatamente, tornando-se manchete dos principais periódicos de todo o mundo. Segundo o pesquisador da área educacional, Ivanildo Fernandes, no dia no naufrágio, foi emitida a seguinte nota de pesar, Expediente de 27/01/1906, dirigida ao Presidente Rodrigues Alves, no qual estavam alunos da Academia do Comercio: Illm. Exm. Sr. Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, Digníssimo Presidente da Republica. Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1906.—Ante o trágico episódio ocorrido na enseada de Jacuecanga, os alunos Academia de Comercio do Rio de Janeiro (atual Universidade Candido Mendes no Rio de Janeiro) e os seus colegas da Escola Commercial da Bahia, respeitosa e profundamente consternados, vem manifestar a V. Ex. a sua solidariedade na magua que ora compunge a alma da Patria. O momento actual representa para a Republica a mais dura e comovente das provações que ela já há sofrido. A V. Ex., como digníssimo o directo representante do povo brasileiro, de que somos obscura parcela, cabe receber a expressão da mais sentida condolência pelo infortúnio que experimentamos. Afeitos e confiados no animo torto de V. Ex., tão sobejamente provado, estamos certos do que a angustia por que passa neste momento a vida nacional, produzirá, longo de desanimo, a vontade de prosseguir no louvável e extraordinário ressurgimento observado no governo de V. Ex. Digne-se, pois, permitir V. Ex. que reiteremos os nossos pêsames sentidos pela horrorosa, catástrofe que privou o Brasil de um pugilo do tão distintos e devotados servidores. A nossa dor é, como a de todo o Brasil, inteira, intensa, eterna e inexprimível. Muito respeitosamente. — A Comissão. Alvaro de Mello.—Julio de Abreu Gomes.—Percilio de Carvalho. (Fonte: DOU de 01/02/1906, p. 637). (a foto acima mostra a prática do mergulho nos destroços do navio).
Após este acidente, a Marinha criou um setor responsável pela identificação dos tripulantes, pois diversos corpos encontrados não puderam ser reconhecidos à época. Atualmente os destroços repousam a uma profundidade entre 10 e 18 metros de profundidade, ao largo do monumento em homenagem às vítimas da tragédia, inaugurado em 1913 na Ponta do Pasto. A Marinha do Brasil as reverencia anualmente. Veja:
Monumento Aquidabã. Fonte: Marinha do Brasil, D.O.U, Arquivo Nacional e José Eduardo Riegert Galindo.
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