Lazareto do Abraão, Ilha Grande








A palavra lazareto, de origem italiana, significa hospital de quarentena; nada tem a ver com os leprosos, que eram tratados nos leprosários. (quadro de Nicola Antonio Facchinetti, 1887) 
Desde 1810, o médico da corte Dr. Manuel Vieira da Silva insistia na construção de um lazareto, onde seriam inspecionadas as embarcações que aportavam no Rio de Janeiro, para controle das diversas epidemias que assolavam a cidade. (foto de 1909)
Em agosto de 1849, a fragata inglesa "Apollo", chegou no Rio de janeiro com passageiros com cólera. D.Pedro II mandou encaminhar a embarcação para quarentena na Praia de Palmas, na Ilha Grande. O mesmo ocorreu com a galera portuguesa "Defensora", em maio de 1855. (foto de 1909)
Em 14 de novembro de 1881, o Dr. Nuno Ferreira de Andrade, Inspetor Geral da Saúde da Corte, sugeriu a construção do lazareto na Ilha Grande. (foto de 1909)
A Câmara de Angra dos Reis, manifestou-se contra , devido ao risco que traria para a população. Mesmo assim, o Gabinete determinou a construção em 6 de julho de 1884. (foto década de 40)
Para a realização do projeto, foram compradas as fazendas de Dois Rios e a do Holandês. Grande parte do material utilizado na construção foi importado da França, Inglaterra e Alemanha, sendo trazido o que havia de melhor no ramo de louças, fogões, lavatórios etc. (foto década de 40)
Porém, a pressa que se tinha em abrigar as pessoas que chegavam de viagem comprometeu a solidez do prédio, que logo se deteriorou. (foto década de 40)
A acomodação dos passageiros seguia o mesmo critério dos navios, separando 1ª, 2ª e 3ª classes. Os aposentos de primeira classe tinham seus banheiros privativos, o que na época era novidade. (foto década de 40)
O lazareto funcionou durante 28 anos, de 1885 até 1913. Nesse período foram atendidas 4.232 embarcações e desinfestada 3.367. (foto de 1939, prédio administrativo)
O Imperador D.Pedro II veio pessoalmente conhecer o local em 18 de abril de 1886, a bordo da lancha "Lucy", comboiado pelo navio "Purus" e pela corveta "Trajano".
O imperador retornou ao local em 14 de agosto de 1889, transportado pelo couraçado "Aqidaban", acompanhado pelo "Riachuelo", pela corveta "Trajano" e outras unidades navais.  
No dia seguinte foi até o centro de Angra dos Reis, voltando a pernoitar no lazareto até o dia 17. (na foto o Lazareto ao fundo)
A quarta visita ao local foi a mais dramática, em 17 de novembro de 1889. Antecedeu sua viagem de exílio. Embarcou no Rio de Janeiro, na corveta "Parnayba", seguindo para a Ilha Grande.  (foto dos presos trabalhando no acesso ao presídio do Lazareto, década de 40)
Na enseada do Abraão já lhe esperava o navio à vapor "Alagoas", do Lloyd Brasileiro (companhia estatal brasileira), fretado pelos republicanos. (foto década de 40)
Na noite de 17 para 18 de novembro passou toda sua comitiva, em escaler, do "Parnayba" para o "Alagoas", com o mar muito revolto. No dia 18 de novembro partiu o navio "Alagoas" da Ilha Grande. (foto legendada)
Em outubro de 1917, em virtude da declaração de guerra do Brasil à Alemanha, o governo subordinou provisoriamente o Lazareto da Ilha Grande ao Ministério da Marinha, por motivo de segurança nacional. (planta do Lazareto)
Um mês mais tarde, entretanto, decidiu-se não internar mais ali os prisioneiros alemães e a medida foi revogada, retornando a instituição aos cuidados do Ministério da Justiça e Negócios Interiores (decretos 12.690, 27 out. 1917, e 12.726, 28 nov. 1917). (placa informativa)
Na época, como os diversos portos do país já tinham meios de realizar o controle de saúde, as autoridades não encaminhavam mais todos os navios para a Ilha Grande porque a medida, além de improdutiva, trazia o risco de contaminação ao longo do trajeto. (placa)
As atividades do Lazareto restringiam-se a casos especiais. Contudo a guerra ocasionava devastações de toda ordem na Europa, e algumas epidemias disseminavam-se para outros continentes através do comércio marítimo. (uma manchete de jornal de 1884)
Assim, em novembro de 1918, o Lazareto voltou a centralizar o controle de saúde nos portos, a fim de evitar a cólera. (na foto as antigas celas do presídio do Lazareto)
No final do governo de Epitácio Pessoa, diversos militares que participaram do movimento do Forte de Copacabana, em 1922, foram presos.  
Em 5 de julho de 1924, nova rebelião ocorreu no Rio de Janeiro, já caracterizando uma segunda fase do movimento.
A resistência ao governo prosseguiu após a eleição de Artur Bernardes, que governou o país sob estado de sítio (1922-1926). As contestações eram lideradas pelo governador do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, pelo governador do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha, e por militares tenentistas.
As detenções continuaram, e em 1925 o Lazareto foi transformado em prisão militar privativa sob jurisdição do Ministério da Guerra, para pessoas acusadas de crimes políticos. Ao tomar posse em 1926, o presidente Washington Luís declarou o fim do estado de sítio, e em 1927 a prisão militar foi extinta.
Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945), os prédios do Lazareto voltaram a ser utilizados como prisão política. Aqueles que participaram da Revolta Constitucionalista de 1932 foram enviados para lá. Um dos testemunhos mais completos que temos desse período é o de Orígenes Lessa, preso na ilha por três meses.
Além de uma reportagem de grande repercussão, “Não há de ser nada” (Lessa, 1932), publicou o livro Ilha Grande: jornal de um prisioneiro de guerra, em que relata a chegada dos dois mil presos da revolta de 1932 (Lessa, 1933). Apenas em 1942 o lazareto transformou-se definitivamente em prisão.
Após enormes reformas, foi criada no mesmo local a Colônia Penal Cândido Mendes, que, junto com a Colônia Agrícola do Distrito Federal, instalada em Dois Rios, constituiu um dos mais significativos complexos penitenciários da República.
A política penitenciária da época apostava na recuperação de presos comuns após sua passagem por colônias agrícolas, e uma infraestrutura de grandes proporções foi criada na Ilha Grande. Plantações, oficinas, criação de animais e manutenção da estrada e das demais dependências penais passaram a ocupar o dia dos internos.
A lembrança deles, entretanto, ainda está presente entre moradores da região. Atualmente apesar das ruínas estarem interditadas é comum ver turistas dentro do local, tirando fotos e fazendo poses. Um pedaço da nossa história apagado por um governador sem noção. (foto Carlos Lacerda, governador do Estado da Guanabara, 1960-1965). Fonte: Alípio Mendes, UERJ, Arquivo Nacional, Biblioteca Particular Imperial, Alvaro Segneri, Sidney Eustáquio, Nicola Antonio Facchinetti. 

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