Na Sexta-feira Santa, também conhecida como Sexta-feira da Paixão, Cristo foi condenado, carregou a cruz e foi crucificado. É dia de sacrifícios para os cristãos, em consternação pela morte de Jesus. No Sábado de Aleluia, os cristãos refletem sobre a morte de Jesus, e no domingo renovam suas esperanças celebrando a ressurreição de Cristo e a promessa da remissão dos pecados e da vida eterna. A história da proibição aos católicos comer carne vermelha na sexta-feira é muito antiga, mesmo não se falando muito, está presente na atual legislação da Igreja, portanto, em pleno vigor. Abster-se de comer carne vermelha e jejuar na sexta-feira é uma prática que existe há séculos na Igreja católica e tem seus argumentos pautados na doutrina católica.
No período medieval carne era artigo de luxo, rara à mesa das pessoas mais pobres. O peixe, por outro lado, era abundante e barato, por isso comum nas refeições dos mais humildes. No início a igreja orientava os fiéis a comerem carne à vontade antes da quaresma, o que deu origem aos banquetes chamados "carnevale" e ao nosso carnaval, e depois deveriam abster-se de carne, durante os 40 dias que antecediam a Páscoa. O peixe não chegou a entrar na lista da abstinência porque sua presença era irrelevante nos banquetes medievais.
É bom lembrar que comer peixe não significa só adotar a simplicidade, a exemplo de Jesus, o ato simboliza também uma penitência. Assim, não basta apenas comer peixe. toda a refeição deve ser simples, e deve-se evitar quaisquer outros prazeres no dia. Na liturgia, a Via Sacra é encenada, revivendo-se os 14 momentos da Paixão de Cristo.O primeiro deles é que todos os cristãos precisam levar uma vida de ascese (disciplinada na doutrina). Esta é uma regra básica da espiritualidade cristã. Por meio de tal prática acredita-se alcançar com frutos a virtude da temperança, definida pelo Catecismo da Igreja Católica como sendo a "virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados". Ela assegura o "domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade".
Segundo São Tomás de Aquino: “ o jejum foi estabelecido pela Igreja para reprimir as concupiscências da carne, cujo objeto são os prazeres sensíveis da mesa e das relações sexuais". Importante recordar que, na época de Santo Tomás, a disciplina exigia esta prática não só na sexta-feira, mas também na quarta e, além da carne, englobava os ovos e os laticínios.
Historicamente, fazer da sexta-feira um dia penitencial é algo que afunda suas raízes na época apostólica. A Didaquê ou Didaqué (Instrução dos Doze Apóstolos ou Doutrina dos Doze Apóstolos é um escrito do século I que trata do catecismo cristão. É constituído de dezesseis capítulos, e apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e teológico). nos informa que o jejum era feito na quarta e na sexta-feira. A Igreja do Oriente, inclusive, permanece com esse costume.
Os Santos Padres também incentivaram sobremaneira este hábito que acabou se consolidando. No entanto, na Idade Média, o Papa Nicolau I, no século IX, instituiu como lei aquilo que era somente um costume. E, assim, a penitência passou a ser obrigatória para todos os cristãos a partir da idade da razão (7 anos). Ainda no período medieval, em honra à Nossa Senhora, as pessoas passaram a jejuar também aos sábados. Deste modo, o domingo, grande Dia do Senhor, era precedido por dois dias de penitência, em preparação à Páscoa semanal.
Como a Igreja tem seus altos e baixos, tal costume se arrefeceu com o tempo e, inclusive, os fiéis passaram a se questionar acerca da obrigatoriedade da abstinência na sexta e se a não observância desse preceito se constituía um pecado mortal ou leve. Diante disso, o Papa Inocente III, no século XIII, decretou que realmente é pecado grave. E no século XVII, o Papa Alexandre VII anatematizou (condenou) quem dissesse que não era pecado grave. Essa foi a disciplina até 1983, quando houve a promulgação do Novo Código de Direito Canônico. No cânon 1251, lemos que é obrigatório fazer “abstinência de carne ou de outro alimento [...] em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades". Com relação a este cânon, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirma que o fiel católico brasileiro pode substituir a abstinência de carne por uma obra de caridade, um ato de piedade ou ainda trocar a carne por um outro alimento.
Atualmente, a exigência da lei é para aqueles que já completaram 14 anos de idade e não a partir da idade da razão, como era no início, conforme o cânon 1252 do mesmo Código. Importante lembrar que o objetivo do artigo não é discutir a religião e sim, referendar uma tradição que foi passada de geração a geração através dos séculos, perdurando até os dias atuais. Fonte: PMAR, Salmo Duarte, Didaqué, São Tomas Aquino, CNBB, Padre Paulo Ricardo.
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